terça-feira, 17 de março de 2015

Leia antes de comentar

Às vezes eu me pergunto: “Que pressa é essa?” Todo mundo vive correndo. Ninguém quer perder tempo com nada.
Fazemos tudo rápido, de comer a ler. Os danos da má alimentação já são conhecidos, pois os sentimos em grande escala, nas estatísticas da obesidade e outros transtornos alimentares. Não só comer sem mastigar, mas comer o que não precisa ser cozido, o que é levado ao micro-ondas, o que já vem pronto dentro de um saco etc., tudo isso em excesso prejudica a saúde.
O que nem todo mundo percebe, são as sequelas da excessiva leitura rápida e superficial. Numa época em que as mais complexas informações são passadas por qualquer pessoa, em poucas palavras, sobretudo na internet, o preço a se pagar é alto. Não estou falando da dependência da internet, tema de diversas pesquisas em psicologia, mas do mau hábito de ler apenas na internet, e somente postagens curtas. Basta observar o fenômeno das redes sociais, para constatar que alastram-se como uma epidemia os erros de ortografia, os comentários irresponsáveis, as opiniões infundadas, o achismo indiscriminado e – por que não dizer? – a tolice generalizada.
Isso mesmo. Bobagens e bobagens sem fim. Falando em fim, só para exemplificar, transcrevo o comentário de um leitor sobre a notícia da prisão de um bandido: “Até que fim Hein?!” O que significa essa frase? Em português: NADA. Não tem a menor lógica.
Outro dia postei sobre sadismo, usando como referência o filme “Cinquenta Tons de Cinza”. Choveram comentários sem leitura. Tem alguns em que é óbvio que não leram o que escrevi. Ou leram e não entenderam. Mas escreveram o que bem quiseram. Seria cômico se não fosse trágico.
Por falar em trágico, algumas vezes deparo com uma frase tosca atribuída a Shakespeare. Milhares de curtidas e quase ninguém percebe que jamais o dramaturgo poderia ter escrito tal texto, haja vista sua pobreza intelectiva. Por quê? Primeiro por não perceberem a pobreza intelectiva, segundo por desconhecerem Shakespeare.
Ah! Rubem Alves morreu e algumas de suas frases se alastraram como cometas, soltas das crônicas, que eram soltas dos livros, que eram soltos de quase tudo, exceto das “linhas do tempo”. Frases descontextualizadas podem ser perigosas. A de Jesus: “Quem pela espada mata, pela espada perecerá”, serviu de inspiração para muita tortura da Inquisição. Mas voltando a Rubem Alves, alguém que compartilhou uma de suas frases, comentou: “Eu amo Rubem Alves.” Mas certamente nunca leu dele mais que aquela frase!
Não estou falando que a internet é culpada. Não, de forma alguma. A culpada é a tal da preguiça. Bem dizia Carl G. Jung – psiquiatra que me inspira – , que o grande mal da humanidade é a preguiça. Por preguiça, pensa-se menos, lê-se menos ainda e vive-se de procurar caminhos de resultados rápidos. Por mais contraditório que pareça, a preguiça tem relação direta com a pressa.
Pensava que a pressa era sinal de esperteza ou agilidade? Nem sempre! Quem não tem preguiça, não gosta da pressa, pois deseja pensar para melhor agir. Não acolhe ideias prontas, analisa-as primeiro, e com profundidade. Não teme o esforço mental. Se souber ler, então, abraçará essa capacidade como um dom precioso. Se não souber, procurará aprender. Porque a leitura exercita a mente, e mente trabalhada é mente saudável!

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