Antes das aeronaves, a cocaína boliviana vinha para o Estado em veículos terrestres, de São Paulo e Minas Gerais
A
frequência com que aviões de pequeno porte começaram a chegar ao Ceará
aumentou desde o ano de 2013, segundo a Polícia Federal (PF). Antes
disto, os narcóticos da Bolívia chegavam ao Estado pelas rodovias,
vindos da Região Sul e Sudeste. As pistas clandestinas que possibilitam a
chegada do material ilícito foram gradativamente construídas, conforme a
demanda de cada região. Hoje, a Aeronáutica e a PF já detectaram
diversos pontos de pousos ilícitos em diferentes partes do Ceará.
A aeronave apreendida em Pedra Branca trazia 361Kg de cocaína / FOTO: VC REPÓRTER
De
acordo com informações do titular da Delegacia de Repressão a
Entorpecentes (DRE), Janderlyer de Lima, as organizações internacionais
que atuam no tráfico do Ceará herdaram muitos dos métodos de um dos
esquemas de narcotráfico mais conhecidos do mundo, o 'Cartel de
Medellín'. A rede criminosa, que teve como operador Pablo Escobar, foi
criada na Colômbia na década de 1970 e negociava cocaína na Bolívia,
Peru, Honduras, Estados Unidos, Canadá e em Países da Europa.
"Depois
que o 'Cartel de Medellín' foi desfeito, os olhos das autoridades que
combatiam o narcotráfico no mundo se voltaram para a Colômbia. Por conta
disto, muitos traficantes migraram para a Bolívia. Eles levaram a
expertise do cartel para lá. Conseguiram montar esquemas menores com o
mesmo nível de organização. Aos poucos, inseriram bases em outros Países
e um deles foi o Brasil", explicou.
O
delegado revelou que as quadrilhas nacionais têm investido no
transporte de cocaína em aeronaves, embora ele seja muito caro, por
conta das fiscalizações feitas nas rodovias e do tempo que a droga
levava para chegar ao destino em veículos terrestres. "Este é um negócio
bastante lucrativo, tanto que está sendo expandido. Nem todas as
organizações têm poder aquisitivo, nem logístico para isto, mas as que
têm preferem ampliar suas rotas aéreas".
Conforme
Janderlyer de Lima, antes o transporte aéreo da cocaína que vinha da
Bolívia era feito apenas para o Norte do Brasil, que enviava a droga
para as regiões Sul e Sudeste. "A rota até a Região Norte é a mesma até
hoje. Como as quadrilhas foram ampliando seus negócios, o mato Grosso e
Rondônia também aumentaram as rotas dentro do Brasil para atendê-las",
afirmou.
Ampliação
Segundo
Lima, quem mais enviava droga para o Ceará, por rodovias, era São Paulo
e Minas Gerais. O titular da DRE declarou que a proximidade do Estado
com a Europa fez com que ele fosse definido como ponto de expansão das
aeronaves. "O tráfico exige uma logística muito bem feita. São relações
comerciais estruturadas. Pessoas de outros Países estão no Brasil
unicamente para negociar droga".
Jarderlyer
de Lima disse que por conta do aumento de pousos, as pistas
clandestinas também aumentaram, mas a PF está fazendo um trabalha junto
com a Aeronáutica para que estes pontos sejam descobertos. "Para nossa
surpresa, o número de pistas clandestinas é grande. Descobrimos mais de
dez e elas estão espalhadas em diversas regiões do Ceará", declarou.
Segundo
ele, a PF está monitorando os pontos que já foram descobertos. O
delegado pede que as pessoas continuem denunciando pontos em que ocorrem
pousos suspeitos.
O
delegado federal disse que as operações de combate ao tráfico estão
sendo intensificadas e a PF tem sido incansável nas investigações e
operações. No ano de 2014, 49 pessoas foram presas pela DRE. Em 2015, já
são 34 presos. "Os responsáveis por estes resultados são os policiais
que compõem a equipe da DRE. São eles que continuam lutando nesta
batalha contra o tráfico, que sacrificam muito de suas vidas para tentar
afastar este mal da sociedade", salientou.
Poder
O
delegado diz que o 'encanto' que faz com que tanta gente se arrisque
para continuar operando o tráfico no mundo é o poder que o crime traz.
Segundo ele, a procura por ascensão é o que move a droga entre
continentes. "A princípio, o tráfico proporciona poder territorial,
depois poder econômico e poder político. O político é o mais importante
deles, porque traz consigo a imunidade", considerou.
O
titular da DRE revelou que a apreensão da aeronave realizada em Pedra
Branca, ocorreu em uma pista de pouso clandestina construída nas terras
de uma família ligada a políticos locais.
Denúncias:
Informações
sobre supostas pistas clandestinas ou pousos atípicos de aeronaves
podem ser feitas pelo telefone (85) 3392-4933, da DRE. A PF garante
sigilo do denunciante
Márcia Feitosa
Repórter
Diário do Nordeste
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